Há 37 anos, Curitiba ficou branca de neve

Do Quintal | 19:28 |

Chegou o 17 de julho, o frio aumentou e a chuva fina que começou ontem continua hoje, levando muitos a acreditar que, como aconteceu há 37 anos, Curitiba volte a ficar "branca de neve", como tão bem definiu o editor chefe do jornal O Estado do Paraná, Mussa José Assis. Tudo bem, os meteorologistas já disseram que como nas últimas décadas a temperatura média vem aumentando, nevar novamente por aqui seria quase um milagre. Ou seja, algo parecido como o que aconteceu em 17 de julho de 1975, pois também na época ninguém esperava a neve, mas ela veio e marcou definitivamente a data na memória e no imaginário curitibanos. E naquele dia houve um outro quase-milagre...


Foi um marco na história da capital, não pelo evento climático em si, mas pelo que ele representou para quem estava por aqui naquele distante 17 de julho. Quem viu diz que foi o dia mais feliz da cidade pelo menos nos últimos 84 anos. Um dia inteiro em que não se viu nenhum curitibano de cara feia.
O mestre dos quadrinhos, pai do mangá no Brasil e por décadas ilustrador da Tribuna do Paraná, o samurai Cláudio Seto tinha uma história deliciosa sobre a data. Paulista de Guaiçara, ele chegou à cidade onde viveria o resto da vida justamente na noite de 16 de julho. No dia seguinte, desceu meio ressabiado para conhecer a cidade, não só pelo frio que fazia mas pelo que ouvira dizer dos seus habitantes, invariavelmente frios no primeiro contato com forasteiros.
E surpreendeu-se com todo mundo sorrindo, todos dando bom dia ...parou no primeiro bar para tomar um café. O dono o recebeu como se fossem velhos conhecidos. Quando foi pagar conta, ouviu que não era nada, era por conta da casa. Saiu maravilhado. “Cheguei ao paraíso”, pensou. Só no dia seguinte percebeu que não era exatamente assim...
LEITE QUENTE
Nos seus 15 anos, a efeméride mereceu uma revista só pra ela. Em texto sensível e primoroso da jornalista e poeta Rosirene Gemael, com fotos de Marcos Campos e do arquivo do Estadinho, a revista Leite Quente, editada pela Fundação Cultural de Curitiba, registrou a magia daquele dia branco. A apresentação é de Mussa José Assis, mestre de gerações e gerações de jornalistas em Curitiba,  então editor do Estadinho e que explicou como chegou ao título histórico:
“A manchete para a chegada da neve mexeu com todos na redação de “O Estado do Paraná”. Da infinidade de títulos sugeridos por editores e repórteres, um deles pelo menos quase chegou ao past-up. No meio do caminho, no entanto, resolvemos mudar substantivo e adjetivo. Essa alteração nada tinha a ver com a forma gramatical, mas foi fruto de outro estalo de momento.
Num instante, “Paraná branco de neve” deu lugar a “Curitiba branca de neve”. Embora o número de letras fosse inferior ao tamanho original das manchetes, optamos pelo título ampliado, fugindo da tipografia do jornal. A antiga Rádio Iguaçu também ajudou a difundir a manchete, servindo-se dela como chamada durante toda a programação da emissora.
A manchete foi muito feliz, como os desenhos da Disney.”

Feliz também foi Rosirene no seu poema de abertura :
Um caso de humor
Que importa o termômetro
se basta uma neve
para derreter o gelo
do mais sisudo dos cidadãos?

Curitiba branca de neve
é um caso de humor
A cidade cultiva o frio
só pra poder inventar
o seu próprio calor”
E então, não é mesmo pra se torcer para que neste ano, finalmente, a água novamente desça congelada pra esquentar os curitibanos?

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