Dona Palmira, 94 anos bem vividos

Do Quintal | 10:21 |


Palmira nos anos  20.
Palmira Born Kusek é o que pode ser chamada de uma mulher de fibra. Nascida no Pilarzinho em 1918, aos  oito anos ficou órfã.   Casou aos 21 anos com Estefano Kusek, com quem se estabeleceu no Bom Retiro em 1945. Quando a Hugo simas ainda era um estradão poeirento, o casal construiu uma casa e um comércio na esquina com a Rua Dom Alberto Gonçalves. Desde então foi testemunha do crescimento do bairro. Hoje, aos 94 anos, totalmente lúcida, continua morando na casa construída na década de 40, e lembra com saudade da luta de décadas e dos desafios que venceu. 


Lúcida e realizada aos 94 anos.
Dona Palmira teve recentemente um problema de saúde, ficou internada alguns  dias e emagreceu bastante. Por isso está com dificuldades para andar, mas quem conversa com essa mulher logo vê que o peso dos anos não tirou sua energia. Nos momentos de tristeza, é só pedir a ela que mostre seu bauzinho de  fotos antigas, que dona Palmira se anima, lembrando do marido Estefano, das irmãs, dos velhos tempos...
Infância sofrida
Os primeiros anos não foram nada fáceis. O pai, Gustavo Born, morreu aos 34 anos. A mãe, Josefina Loyola Born, se casou com um homem de quem ela nem gosta de lembrar, pois diz que maltratava muito a sua mãe.
Foi nesse época que se mudaram para Florianópolis e lá, quando tinha oito anos, sua mãe morreu. Então uma tia foi buscá-la junto com suas irmãs para voltarem ao Pilarzinho.
Estefano: 23 anos atrás do balcão.
Só deixou a casa da tia aos 21 anos, quando se casou com Estefano, que tinha 26. Mas a sogra não aprovava o casamento.  “Ela não me aceitava, por eu ser uma cabocla e ele polaco”.  Moraram um tempo num minúsculo quarto de hotel no centro da cidade, o marido trabalhando como porteiro e ela costurando .  Quando ficou grávida de Aramis, tiveram que ir morar na chácara da sogra, na divisa do Abranches e Barreirinha. “Era no meio do mato, tinha medo, pois meu marido trabalhava à noite e eu ficava sozinha”.
Garimpo
No local hoje funciona a Mercearia Coralina...
Foi aí que aceitaram o convite de amigos para trabalharem em Apiai, no Vale da Ribeira, em São Paulo. Lá, na época uma área de garimpo,  montaram um bar com a ajuda dos amigos que já estavam estabelecidos. Em dois anos de trabalho, conseguiram juntar dinheiro suficiente para voltar a Curitiba e montar um pequeno armazém. O local escolhido foi a Hugo Simas, num velho prédio alugado por um dos pioneiros dali, Carlos Hass.
Tempos depois, compraram o terreno da esquina com a Dom Alberto Gonçalves. Ali construíram sua casa e, com a venda do armazém, construíram um pequeno prédio em frente. No local inauguraram, em 1955, o Bar do Estefano, que marcou época na região. Estefano tocaria o bar até sua morte, em 1978. Então o filho Aramis assumiu o balcão e manteve aberto o bar até 2002. Depois, alugaram o espaço, que durante anos foi “O velho armazém” e hoje abriga a "Mercearia Coralina", que tem um público predominantemente jovem, mas que na decoração  traz objetos da época da vovó.
“Realizada”
Hoje, dona Palmira diz se sentir realizada por ter podido passar as cinco propriedades que o casal conquistou nesses anos aos três filhos, garantindo uma casa para cada um.  Feliz também por ter visto os seis netos crescerem – o mais novo tem 25 anos.
Saudade ela tem da paz e da solidariedade que havia entre os primeiros moradores do bom retiro.  Para dona Palmira, se antigamente faltavam asfalto, luz, saneamento e outros serviços públicos na região, sobravam tranqüilidade e união entre os moradores.  Ela se lembra, por exemplo, que os vizinhos se cotizaram para conseguir puxar a luz elétrica até o local onde moram.  Também eram comuns as festas nas quais toda a comunidade se reunia.
Triste ela só fica quando se lembra de todos os amigos, do marido e das irmãs que já se foram.  “As vezes me sinto sozinha. Parece que todos morreram.Não tenho com quem conversar...” Mas, o lamento é rápido e ao ser lembrada dos filhos, dos  netos, já volta a se animar, mostrando a foto de uma “netinha”, hoje com 40 anos.... (DSF)

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