Lenzi, o mago da arte em painéis e vitrais

Do Quintal | 15:29 |

Lenzi em seu atelier

Por muitos anos morador do Pilarzinho, artista tem obras espalhadas por Curitiba e por vários países

- Erly Ricci - 


Adoaldo Lenzi não é um artista comum. Mestre dos murais de cerâmica e pedra, mosaicos e vitrais, suas obras estão espalhada por toda Curitiba, por todo o Paraná, por vários estados brasileiros e por países como Alemanha, Paraguai e Argentina. Nascido em Jaraguá do Sul (SC), Lenzi chegou a Curitiba com 12 anos de idade e foi morar com os pais e mais oito irmãos no Pilarzinho, numa região onde, hoje, virou Bom Retiro, na Hugo Simas. Mais tarde, foi morar próximo a Cruz do Pilarzinho e por ali fundou a associação dos moradores.
Sua vida na arte começou quando, ainda recentemente morador na capital paranaense, um dos seus irmãos conseguiu emprego no estúdio do artista João Frederico Gener, especialista em mosaicos e vitrais. Como irmão caçula, foi apresentado para trabalhar no estúdio como uma espécie de faz tudo: carregar, varrer, limpar, etc.

Vitrais

Painel feito para a Sanepar
“Comecei a observar e, por conta da minha curiosidade, fui chamado para por a mão na massa”, conta o artista, que gosta de contar as histórias da sua vida. Então,  João Frederico Gener se tornou seu mestre. O seu primeiro grande desafio foi durante a construção da Igreja do Perpétuo Socorro, no Alto da Glória. Gener foi contratado para fazer os vitrais e Lenzi, foi seu braço direito. Com a prática, descobriu que tinha excelente habilidade manual. “Tive sorte, descobri minhas vocação muito cedo”, comemora.



Arte Musiva

Painel para a Itaipu Binacional
Obras em igrejas como Cristo Rei e tantos outros projetos foram aprimorando a sua técnica e carregando o menino Lenzi de atividades. Só saia do estúdio para ir à escola. Trabalhava tanto e com tanto gosto que, aos sábados, dia de folga, cavou mais serviço, passando a freqüentar o atelier do artista Franco Giglio - autor do painel do Cemitério Municipal, obra restaurada recentemente – e assim, começou também a aprender as técnicas da arte musiva, com pastilhas de cerâmica e vidro. “Um dia, vendo meu esforço, Franco me convidou para trabalhar todos os sábados, mas fiquei feliz da vida! Era divertido e falávamos somente em italiano para lembrar nossas origens. Entre os trabalhos de Franco que participei, estão o painel em pastilhas vidradas do Cemitério Municipal”, lembra.

O grande aprendizado


Esse foi o início do seu grande aprendizado que, em paralelo aos estudos no Colégio Estadual do Paraná, seria interrompido aos 18 anos, quando o Exército o chamou para servir no Rio de Janeiro. A dedicação exclusiva ao serviço, porém, durou pouco tempo. No quartel, ele logo descobriu um mosaico decorativo que estava precisando de restauração. Oferecendo-se para o trabalho, teve a felicidade de não apenas ser autorizado, mas também a de ganhar a orientação de Freda Bonds, professora da Escola Nacional de Belas Artes.
A professora, percebendo o talento do jovem soldado, o convidou para freqüentar o curso de mosaicos que lecionava na Escola. O quartel liberou suas tardes para que fosse às aulas, nas quais ele continuou marcando presença mesmo depois de terminado o serviço militar. Com isso, na então Capital da República, Lenzi acabaria conhecendo muitos artistas importantes, como seu conterrâneo catarinense Juarez Machado, o arquiteto Oscar Niemeyer e o grande mestre paranaense Poty Lazarotto, que alguns anos depois viria a ser seu grande parceiro.


No estúdio atual, em Almirante Tamandaré, onde está
produzindo alguns painéis para a  UFPR

Com estúdio próprio

Em 1966, de volta a Curitiba, cidade que adora, retornou ao estúdio do mestre Gener para trabalhar por mais três anos. Em 1969, finalmente, montou o próprio estúdio, onde poderia se dedicar a projetos de desafio como, por exemplo, a restauração dos vitrais da Catedral de Curitiba. Com orgulho, ele conta hoje que “depenou” a igreja: tirou todos os vitrais, recuperou os que estavam quebrados e deixou tudo como se fosse novo.
A obra de Lenzi é freqüentemente associada aos painéis que fez em parceria com Poty Lazarotto. Ele, porém, é muito requisitado e reconhecido por suas obras autorais com mosaico e vitrais, além dos painéis cerâmicos.
O maior vitral do mundo, na Igreja de Santo Estanislau, em Curitiba

O maior vitral do mundo

Lenzi é responsável, por exemplo, pela confecção de dois vitrais ligados a visitas do Papa João Paulo II. Em 1980, ano em que João Paulo veio a Curitiba, o artista foi convocado para fazer um vitral homenageando o pontífice. Construído em tempo recorde, 30 dias, é o único vitral no mundo que, quando feito, representava uma pessoa viva e, por isso, os detalhes deveriam ser muito fiéis. A obra, de 1,30x4,75m, foi instalada na Igreja de Santo Estanislau, em Curitiba, e utilizou 2 mil e 800 cacos de vidro em 45 tonalidades de cor. O vitral foi inaugurado no dia 18 de maio de 1980, alguns dias antes da chegada do Papa, que infelizmente não pôde visitar a igreja e conhecer a homenagem.
Já em 1988, Lenzi e Osmar Horstmann criaram o maior vitral da América Latina na Basílica de Caacupê, a 49 km de Assunção, capital do Paraguai. O trabalho tem 350 metros quadrados. Dessa vez sim, a inauguração da Basílica teve a presença do Papa, que pôde conferir a beleza feita pelos vitralistas brasileiros.




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