Jesuítas, pirata e o capeta...

Durante décadas houve muita gente que entrou no Túnel do Gutierrez com intenção de achar o tesouro escondido pelo Pirata Zulmiro. O professor Key Imaguire conta que havia um certo risco em adentrar o esconderijo, “pois a abóboda e paredes estavam  esburacadas por esses neuróticos que procuram ouro escondido em qualquer lugar antigo”.

Para a criançada, porém, entrar no túnel era uma prova de coragem e o objetivo principal era descobrir aonde levava a estranha construção. “A grande aventura era chegar a tal sala – após entrar pelo alçapão e rastejar pela estreita passagem -, sentar numa pilha de tijolos e ficar montando engenhosas hipóteses sobre o esconderijo – inclusive da conveniência de conhecê-lo em caso de ira incontida de nossos pais”, brinca o arquiteto e historiador. 

Outros lembram que para chegar ao túnel tinham que passar pelo caseiro dos Gutierrez que morava em frente. Valdir Siba, que nasceu no bairro e que ainda mora no número 170 da rua Albino Pachendorff, conta que os meninos esperavam o caseiro sair para se aventurarem pelo esconderijo. “A gente levava velas, pois era muito escuro”, relembra. Hoje, aos 64 anos, Valdir não acredita que o túnel tenha sido feito por um pirata. Ele acredita que seja obra dos jesuítas.

Para afugentar a gurizada dos perigos do túnel os adultos criavam histórias assustadoras. Virgínia Bressan , sobrinha neta do casal João e Virgínia, os caseiros da chácara dos Gutierrez, recorda que o tio dizia que dentro do túnel morava o capeta, e quem entrasse lá seria uma presa fácil para o tinhoso. Ela obedeceu, mas sua prima Arnete Bressan, hoje com 70 anos, resolveu conferir. “Eu entrei, mas só na primeira parte, não fui até o fundo como faziam os meninos. Tinha medo”. Se o diabo morava lá, no momento ele não estava em casa, pois Arnete diz não ter visto ninguém por ali.

Até hoje, ela acredita que o túnel foi construído pelos jesuítas e que iria até as Ruínas de São Francisco, no centro da cidade.