Golfinho recebeu os melhores do mundo
Doc com Don McKenzie, Mark
Spitz e Charlie Hickox.
|
As visitas ilustres mostravam bem a importância que o Golfinho, primeira escola exclusiva de natação do País, já representava para a natação brasileira. E em 1976, o Brasil tinha uma participação bem mais modesta no cenário mundial do que tem hoje. Rômulo Arantes, Marcos Mattioli, Jorge Fernandes, Cyro Marques e Djan Madruga eram os expoentes nacionais. Todos com bons desempenhos, mas nenhuma medalha olímpica, o que só viria a acontecer nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, quando conquistariam o bronze nos 4 X
E se o Brasil aparecia pouco, o
Paraná nem existia nas competições mundiais. Mas, foi em dezembro de 1976 que o
maior técnico do mundo e alguns dos principais nadadores norte-americanos vieram
ao Pilarzinho e conheceram o que aquele grupo de curitibanos vinha fazendo no
número 28 da Rua São Salvador.
A convite de Berek Kriger, a
delegação norte-americana da Universidade de Indiana, chefiada por James “Doc”
Counsilmann, deu aulas e participou de uma competição amistosa com os jovens
atletas do Golfinho. Aos 56 anos, Doc era uma lenda viva norte-americana.
Piloto, foi considerado herói da Segunda Guerra ao chocar seu avião contra os alpes da
Iugoslávia mas conseguindo salvar toda a tripulação.
De volta à vida civil, além de vários
clubes, treinou a delegação daquele país nas Olimpíadas de 64 e 76, quando das
24 medalhas disputadas levou 21. Dois anos depois da visita ao Golfinho, seria
o homem mais velho a cruzar nadando o Canal da Mancha.
Entre os nadadores que Doc trouxe ao
Golfinho veio o primeiro do mundo a nadar os 100 metros em menos de 50 segundos, James
Montgomery.
Doutor em educação física, Doc Counsilmann
revolucionou o treinamento dos atletas. Sua obra mais conhecida, a Ciência da Natação, lançada em 1968, se
tornou uma bíblia para treinadores do mundo todo. E foi parte dessa
técnica que ele ensinou em aulas e palestras para a equipe do Golfinho.
Vitória surpreendente
No mesmo ano, só quem em abril, o
Golfinho havia recebido outra visita ilustre. A equipe de Mission Viejo,
Califórnia, então uma referência mundial na natação, também veio trazer um
pouco de sua experiência para os jovens atletas curitibanos. Entre os destaques
da equipe, Jesse Vassalo, 15 anos, futuro recordista mundial e que só não foi
medalhista olímpico porque os EUA boicotariam os Jogos Olímpicos de Moscou em
1980. Mas nos jogos paralelos que os americanos realizaram naquele ano,
registrou melhor tempo nos 200 e 400 metros do que os dois medalhistas de ouro
de Moscou.
Outros destaques eram os campeãos
americanos Alice Browne, Maura Campiom, Dawn Rodighiero e Cliff Clifton.
Após as palestras e aulas, os norte-americanos
participaram de uma competição amistosa com os atletas locais. A diferença de
nível das duas equipes fazia crer que os americanos ganhariam com folga todas
as provas. O público que lotava as arquibancadas do Clube do Golfinho naquela noite
de 4 de abril de 1976, porém, teria uma grata surpresa.
Das oito provas individuais, os
atletas da Mission Viejo realmente ganharam com folga sete delas. Mas, justamente
nos 100 metros
livres, a mais nobre e importante prova da natação, em vez do favorito Cliff
Clifton, quem chegou em primeiro foi um golfinense. O jovem Ênio Aragon não se
intimidou diante da fera americana e cravou 55 segundos e 78 décimos, contra
57:04 de Cliff.
Mais surpreso que o público, que
vibrou intensamente nas arquibancadas do Pilarzinho, Cliff procurou justificar
o mau resultado, atribuindo-o às comidas “pesadas” ingeridas na sua estada em
Curitiba, incluindo uma feijoada. Em que pese a dieta do atleta norte-americano
e o fato de ser uma prova amistosa, o que ficou para a história é que o campeão
daquele dia – ou melhor, daquela noite - foi
Ênio Aragon. (DSF)
TUDO SOBRE:: Clube do Golfinho