Afinal, quantos morreram no carnaval?

Na última sexta-feira postei aqui um texto falando que naquele dia começava a segunda mortandade coletiva do ano no País, talvez com mais vítimas do que a tragédia de Santa Maria, mas que ao contrário desta não provocaria nenhuma comoção nacional. E que, passado o carnaval, ninguém saberia ao menos quantos brasileiros morreram nas estradas ou que continuam morrendo no leito de hospitais devido aos ferimentos. Como acontece todos os anos. E mais uma vez se repete.


Vendo a forma que a imprensa divulga os números de vítimas, têm-se a impressão de algo orquestrado nacionalmente para que o público não saiba o tamanho exato da tragédia que se abate anualmente no País. De norte a sul, os principais destaques são para uma até agora não confirmada redução de 25% das mortes em relação ao carnaval do ano passado nas rodovias federais. O último balanço da Polícia Rodoviária Federal, porém, apresenta somente os números de sexta a domingo, quando houve 97 mortes, contra 130 em 2012. Faltam as vítimas de segunda, terça e hoje, ou seja, da volta. O balanço final sai amanhã. Mas, e os mortos nas estradas estaduais? Para saber, só somando os números dos 26 estados.
No Paraná, conforme divulgou a Gazeta do Povo em seu site às 13h29 de hoje, foram confirmadas 22 mortes nas estradas estaduais até o meio dia de hoje; e 7 nas federais até ontem. A matéria não lembra, porém, que mesmo com o balanço parcial já havia mais mortes confirmadas neste ano no Paraná que no carnaval passado. Em 2012, de sexta à noite de quarta-feira, foram 14 nas federais e 12 nas estaduais. Também hoje à tarde, sites paulistas divulgam que por lá houve redução no número de mortes em 13% em relação ao ano passado. De 31 para 27. E atribuem a “vitória” à lei seca mais severa. No Rio Grande do Sul, foram até agora 33 mortes, um recorde na década. No ano passado, haviam sido 18.
 Já em Minas Gerais, com os dados só dos três primeiros dias de carnaval, houve aumento no número de mortos nas rodovias federais de 15 para 18. Nas estaduais, o balanço parcial apontava quatro mortos e não citava o número do ano passado.
Taí um pouquinho do tamanho da nossa recorrente tragédia. Só no balanço parcial do PR, RS, SP e MG já foram confirmadas 111 mortes. Faltam somar os números totais dos outros 22 estados e o Distrito Federal. E lembrar que só entram nos números oficiais quem morre na estrada e não os levados para os hospitais e que não resistem aos ferimentos. E aí começam outros números: só nas estradas estaduais do Paraná, foram 153 feridos; em SP, 472; no RS, 226...
Diferente
Citei no início Santa Maria só para lembrar da tragédia mais recente no País. A das estradas no carnaval é bem diferente, a começar pela extensão: a de agora provavelmente terá mais mortos e com certeza muito mais feridos. Aquela não acontece todo ano, esta sim. Lá, as famílias choraram juntas os seus mortos, agora a dor lancinante da perda do ente querido é vivida separadamente nas centenas de lares de norte a sul do País.
E a diferença crucial: a dor e a comoção causadas pelo incêndio na cidade gaúcha redundaram numa ação imediata das autoridades, ávidas em tomar as providências - que já deveriam ter tomado -  para evitar novas tragédias. Já a tragédia que vivemos agora nem terá o devido destaque na mídia. Claro, há assuntos muito mais importantes, como as campeãs do carnaval 2013, e o relatório, amanhã, da Polícia Rodoviária Federal se vangloriando que devido à nova lei seca conseguiu reduzir em algumas dezenas o número de mortes nas rodovias de sua responsabilidade. E como no Brasil há diferença entre morrer numa estrada ou noutra, vai ficar só nisso mesmo. (Douglas de Souza Fernandes)

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